O bairro Armando Mendes, situado na Zona Leste de Manaus, próximo ao Distrito Industrial, foi fundado em 25 de agosto de 1987 e recebeu este nome em homenagem ao pai de seu idealizador, o então governador Amazonino Mendes.
No bairro, foi erguido um conjunto residencial para abrigar moradores de outras regiões da cidade, principalmente aqueles das margens dos igarapés, e de habitantes dos municípios do interior.
No mesmo instante em que se construíam as primeiras casas, o entorno do novo conjunto foi invadido, ocasionando um dos episódios mais marcantes da urbanização desordenada da Zona Leste de Manaus.
A titularidade de toda a área onde se estabeleceu o bairro era questionada, com posseiros, que viviam no local há mais de 30 anos, sendo expulsos por homens a mando do grileiro Paulo Farias. A posse da terra se deu pela intimidação, por parte de Paulo Farias, e a resistência dos invasores. Entre os dois grupos estava o poder público, que defendia tanto os ocupantes, quanto os posseiros os grileiros.
Ínicio
A luta dos moradores do bairro se iniciou bem antes de sua fundação, ainda no dia 5 de fevereiro de 1987, quando ?jagunços? a mando de Paulo Farias agridiram a irmã Helena Augusta Walcott, no momento em que as áreas em torno do conjunto Armando Mendes estavam sendo invadidas, em ações coordenadas pela igreja Católica, através da religiosa salesiana, e partidos políticos ligados às causas populares.
O conflito se agravou ainda mais depois do episódio ocorrido na estrada, que ligava ao depósito de lixo do bairro São José Operário, atualmente avenida Autaz Mirim, antiga Grande Circular, no acesso à gleba Caracol, uma área de conflito entre posseiros e grileiros.
No mesmo dia, o adolescente Altenor Cavalcante Araújo, de 14 anos, foi morto a tiros disparados pelos ?jagunços? de Paulo Farias, que, a todo custo, queria expulsar antigos moradores que estavam no local há décadas, e impedir a invasão por populares, vindos de diversos bairros de Manaus.
O menor foi assassinado quando integrava um grupo, liderado pela irmã Helena, cujo objetivo era fazer um mutirão para reconstruir a casa de dona Otaviana, ?moradora do local há mais de 30 anos?, que fora destruída por homens ligados ao grileiro Paulo Farias, num método corriqueiro, à época, de intimidação para expulsar os posseiros das terras.
O conflito deixou feridos mais quatro pessoas, inclusive a irmã Helena, que teve de se jogar num barranco para escapar das balas disparadas contra ela.
Desapropriação
Ao final do ano de 1987, o então governador Amazonino Mendes desapropriou toda a região em torno do Armando Mendes, ficando os antigos moradores como proprietários de suas terras, mas sem a posse das mesmas, porque foram obrigados a lotear grande extensão dos terrenos, ou mesmo doar aos invasores que também desejavam ocupar o local.
Desta forma se deu à ocupação urbana do Armando Mendes, projetado para ser um bairro-modelo, a ser seguido por outros da Zona Leste. Após os conflitos nas áreas invadidas, foram criadas dezenas de micro e pequenas empresas que funcionavam nas residências dos próprios moradores, sob a supervisão da comunidade
Apoio religioso
Em fevereiro de 1988, chegam ao bairro as irmãs da Congregação das Filhas de Sant´Ana para desenvolver trabalhos pastoral, social e de saúde, hoje uma referência para população do bairro e cuja história coincide, em alguns momentos, com a própria história da comunidade.
Uma das primeiras providências das irmãs foi a transferência da igreja católica São Domingo Sávio, uma das três da região, de um ?barracão? para a praça principal do bairro, onde as religiosas se instalam em uma área reservada a elas.
As pequenas fábricas instaladas na comunidade eram oficinas de artesanato e somente algumas prosperaram, funcionando até hoje na confecção de bijuterias.
Já as hortas comunitárias tiveram menos sucesso ainda, porque poucas pessoas se prontificaram a trabalhar na terra, enquanto muitas não se intimidavam em ?colher os frutos dos trabalhos dos outros?, surrupiando à noite as hortaliças e frutas plantadas pelos comunitários.
Dessa experiência sobreviveu o Instituto de Permacultura, localizado na Alameda Cosme Ferreira, onde são realizadas experiências diversas de manejo do meio ambiente. Em 1991, através do esforço da comunidade e com apoio de órgãos governamentais, o bairro ganha mais desenvolvimento, com crescimento do comércio e a pavimentação e a implantação de posto policial, centro de saúde e escolas.
Progresso
Atualmente, o bairro Armando Mendes possui sete escolas, sendo três estaduais: as escolas Maria Madalena Sant?Ana de Lima, Rilton Real Filho e Manoel Rodrigues; e quatro municipais: Rosa Gatorno, Thiago de Melo, Rui Barbosa Lima e Engenheiro Nelson Neto.
Além dessas escolas, o Armando Mendes tem ainda um posto de saúde, um posto policial, uma feira municipal e um terminal da linha de ônibus, ligando o bairro ao Terminal Integração 5.
Irmãs fazem remédios
Servindo como referência no bairro, a Congregação das Filhas de Sant?Anna desenvolvem trabalho na área de saúde, através da farmácia caseira, famosa no bairro e adjacências, coordenada pelas irmãs, e que já atendeu, de 1991 a 2001, 19.896 pessoas. A farmácia usa método natural, ou bioenergético, utilizando plantas medicinais e outros elementos, como argila ou barro, para o tratamento de diversas enfermidades.
O teste da importância da Pastoral da Saúde, como é chamada a farmácia, é o movimento contínuo de pessoas em busca de atendimento.
Lazer
Na área de lazer para a comunidade, o bairro possui dois campos de futebol e uma praça central com quadras de vôlei e futebol de salão, além de uma associação esportiva coordenada pelos próprios moradores.
Problemas e infraestrutura
Os maiores problemas do Armando Mendes, hoje, são a prostituição, a violência e assaltos e furtos. Na questão da violência, os moradores recebem pouco atenção.
Há apenas um posto policial com poucos policiais de plantão. Para casos mais complicados, é necessário o deslocamento até a delegacia do 4º DP, na Grande Vitória. A falta de água é outro problema no bairro.
Atividades econômicas
A atividade econômica no bairro está restrita aos empregos no Distrito Industrial e ao comércio formal ou informal, dentro ou fora da comunidade, principalmente com a venda de CDs e DVDs na praça de alimentação do bairro.
O bairro do Armando Mendes forma, juntamente com o Zumbi dos Palmares, uma única área missionária da Igreja Católica, uma vez que as duas comunidades ainda não preenchem os requisitos para que sejam denominadas como paróquias.
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