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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Adolpho Guilherme de Miranda Lisboa ( Roberto Mendonça )


Dicionário ortografia da época será preservada, afinal Adolpho (com ph) Lisboa assim se encontra incrustado no frontispício do Mercado Central, um marcante ícone de sua administração na Capital. Também, porque na atualidade se convencionou denotar as pessoas públicas pelo indicativo do nome e sobrenome, ou mesmo, ratificando a práxis, unicamente pelas iniciais (FHC). Assim, pois, espero desbravar esta personalidade da historiografia amazônica, admitindo o curtíssimo espaço para rememorar suas atividades.

O coronel (porque comissionado nesse posto para comandar o Regimento Militar do Estado - RME, em nossos dias, a PMAM) Adolpho Lisboa nasceu na capital da província da Bahia, "de cor morena, cabelos pretos lisos e olhos pardos", em 22 de janeiro de 1862, filho do capitão Felippe Guilherme de Miranda Lisboa, então servindo no 7º Batalhão de Infantaria do Exército, e de Olympia Rosa de Oliveira Lisboa. Sua chegada à Amazônia ocorreu aos cinco anos de idade, segundo fonte do RME, ou quando recém-nascido, conduzido por seu pai, este transferido para o 5º Batalhão da mesma arma, com sede em Belém. Esta notícia reputo mais confiável, porque o mesmo foi batizado na freguesia de Afogados, quando do trânsito da família por Recife.

Em Belém, Adolpho Lisboa viveu a sua infância e fez seus estudos primários, sem que se tenha quaisquer particularidades. Aos catorze anos de idade (1876), assentou praça no 11º Batalhão de Infantaria, na condição de 1º cadete, usufruindo de legislação pertinente, por se tratar de filho legítimo de oficial do Exército. Mesmo ocupando seu pai o posto de major reformado. Essa legislação imperial possibilizava às Forças Armadas recrutar com destaque os filhos de seus subalternos, para sanar em parte a deficiência de efetivo, diante do desinteresse público em alistar-se no Exército. Dessa maneira, o cadete Adolpho Lisboa, em 1º de março de 1878, aos dezesseis anos!, é promovido a Furriel (atual 3º sargento).

E tem mais promoções naquele ano. Em 27 de junho, foi promovido a 2º sargento. A 9 de julho, embarca "com a ala esquerda de seu batalhão" para a província do Amazonas, presidida pelo brigadeiro Rufino Eneas Gustavo Galvão, barão de Maracaju, onde desembarca no dia 16. Para a manutenção das eleições que se realizavam na província, seguiu no dia 28, ainda de junho, para Vila Bela da Imperatriz, atual Parintins, donde regressou em 15 de agosto. Por sua atuação nessa diligência, Adolpho Lisboa merece elogio do comando, publicado em ordem do dia, e inaugura sua presença no Amazonas. E, em 5 de outubro, conquista novo acesso, atingindo a graduação de 1º sargento.

Logradas estas promoções, este graduado volta-se para o oficialato. Contaria com alguma benevolência de superior, ou mesmo ainda com adjutório paterno? Ou, em linguajar corrente, apenas se "virava" na caserna em busca de progresso. A despeito de sua aptidão para o serviço militar, entretanto, tratava-se de um jovem renitente contra as ordens superiores. A leitura de sua fé-de-ofício estampa inúmeras correções que lhe foram aplicadas, ao ponto de responder Conselho de Investigação (23.07.1886), acusado de ter saído do quartel a paisano, quando impedido. Antes do veredito, o Comando das Armas liberou o acusado da prisão, por julgar suficiente o castigo. Nesta ocasião, Adolpho Lisboa, aos 24 anos, "obteve permissão para casar-se com dona Laura Leduc" (de origem francesa, consoante o historiador Antônio Loureiro), não se reconhecendo outros pormenores, inclusive sobre descendência. Apenas o registro da cerimônia realizada, em Belém, em 18 de outubro de 1886.

No final do período provincial, Adolpho Lisboa servia no Comando das Armas, na capital paraense. Ali devotou-se à movimentação pela Proclamação da República (15.11.1889), contemporâneo do então capitão Constantino Nery, que teria uma evidenciada ascendência sobre o memorializado. Este, por seu empenho neste evento nacional, foi promovido ao oficialato, em 4 de janeiro de 1890. Investido da patente, o tenente foi nomeado secretário do Comandante das Armas. O general Bento Fernandes, quando no comando do 1º Distrito, enredou-se, em Manaus, no desdobramento de uma quartelada (02.1892), que buscava depor manu militari o governador Eduardo Ribeiro. Neste funesto acontecimento, descrito com justeza pelo professor Mário Ypiranga, o tenente Adolpho Lisboa operou sua (re)apresentação na Cidade. E, igualmente acredito, que serviu para consolidar a amizade e a lealdade entre os mencionados militares.

Por ocasião da Campanha de Canudos (1897), o major Constantino Nery integrou a quarta expedição, cuja experiência verteu em trabalho literário; quanto ao tenente Lisboa, posto à disposição do governador José Paes de Carvalho, foi comissionado major fiscal no esquadrão de cavalaria da Força Policial do Pará. Em 6 de agosto, assumiu interinamente o comando deste Corpo, nele permanecendo até 4 de novembro, quando, encerrado o conflito Canudense, as tropas do Regimento Amazonense haviam transitado por Belém, e a mesma engalanada capital aguardava seus combatentes. O homenageado permaneceu no Esquadrão, comissionado no posto de tenente coronel comandante, até 22 de maio de 1900, pois aguardava a transferência para a guarnição do Amazonas.

Já eleito, ultimava a sua posse no governo do Amazonas, ocorrida em 23 de julho, o senador Silverio José Nery. Era filho primogênito de um seu homônimo, oficial do Exército, e irmão do major Antônio Constantino Nery, que haveria de sucedê-lo no quadriênio seguinte. Como havia uma ligação mais que profissional entre os irmãos Nery e o tenente Adolpho Lisboa, Silverio nomeou-o, em 12 de dezembro, coronel comandante do Regimento Militar do Estado. Convém especificar que a força policial usufruía de transbordante momento, tanto em efetivo, distribuído em dois batalhões, quanto em material de cavalaria e de artilharia, além de serviços próprios das armas do Exército. Haviam duas bandas de música! Para tanto deleite, recordo que a Capital amazonense transitava no ápice do período áureo da borracha.

Em 10 de janeiro seguinte, o comandante do RME foi obrigado a viajar até Belém, a fim de responder processo criminal, indiciado por ter detratado um subordinado do Exército. Absolvido pela Corte Militar, desembarca na capital amazonense, em 27 de março, e reassume o comando do Regimento. Prossegue na função até 19 de outubro, quando a deixa provisoriamente para retornar à Belém, desta vez em comissão do Estado. Quase no final de dezembro (28) é nomeado vice-provedor da Santa Casa de Misericórdia.

No ano seguinte (1902), é mantido no comando do Regimento. Porém, ainda sem explicação, por ato de 13 de janeiro, é igualmente nomeado Superintendente (prefeito) de Manaus. Acredito que manteve as duas gestões, decerto com um substituto interino no comando militar. Tanto assim que, em 10 de maio, foi dispensado do comando. Substituído pelo coronel Camilo de Lelis Pacheco Amora, que permanece no comando até 13 de agosto, afastado por desídia, ocasião em que retorna o coronel Adolpho Lisboa. Nesta condição, segue até janeiro de 1903, quando volta a visitar Belém e, como exigência da época, passa o comando temporariamente ao coronel Antonio Emydgio Pinheiro. Ao final de 1903 (26.11), Lisboa alcança o posto de capitão do Exército. E entre viagens à Belém, com substituições temporárias, e a administração da prefeitura municipal, Lisboa segue no comando até 25 de junho de 1904.

A cidade de Manaus estava às vésperas da posse, em 23.07, do governador Antonio Constantino Nery. Com a posse de Nery, o coronel Adolpho Lisboa é nomeado em 9 de setembro, e assume a 12, o comando do Regimento. Mais adiante, em 5 de janeiro de 1905, sucede ao dr. João Coelho na prefeitura municipal da Capital. Ao mesmo tempo, é substituído no Regimento Militar pelo coronel Emygdio Pinheiro. Mas, ainda se necessita de pesquisas para se detalhar as diferentes datas para os diversos cargos exercidos pelo coronel Adolpho Lisboa. A definitiva exoneração, do comando do RME, ocorreu em 27.12.1907, pois se aproximava o final do governo Constantino Nery. Todavia, como alcaide, que teve o governo mais duradouro na prefeitura, Lisboa efetivou inúmeras obras na Capital, tratando de seu embelezamento e de sua ampliação ordenada, obras ainda presentes na Cidade. Sua administração foi a amplificação do arrojo urbanístico empreendido principalmente por Eduardo Ribeiro (1892-96).

Não há indicação de seu destino final, onde e quando faleceu, nas ralas biografias consultadas. Em pesquisa no Arquivo do Exército (RJ), copiei documento que autoriza o capitão de infantaria Adolpho Lisboa, ao final de 1907, viajar à Europa, em tratamento de saúde. Mas esta informação registra o mestre Bittencourt (1973), que apreciou aquele tempo quase desenfreado de progresso de nossa urbs. E descreve sucintamente Adolpho Lisboa, analisando a sua personalidade, como um esquisitão. Certamente, no dealbar deste novo século, será dificílimo entender como um administrador público vitorioso não pôde participar do contentamento, do entusiasmo de seus munícipes.

(*) Roberto Mendonça é Coronel reformado da Polícia Militar do Amazonas e Sócio-Efetivo do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. 


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