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segunda-feira, 19 de maio de 2014

GALERIAS CONSTRUÍDAS NO IGARAPÉ DO ESPÍRITO SANTO e AVENIDA EDUARDO RIBEIRO.


BOMBEIROS MOSTRAM A SAÍDA DA GALERIA PELO ROADWAY

Você pode não imaginar, mas a água que sobe e invade as ruas do centro de Manaus, estão apenas tomando o espaço natural delas. Igarapés que foram aterrados (Ribeira, Aterro e Espírito Santo) agonizam todos os anos contra a ação destrutiva do homem.

O projeto de esgotos baseados na Separate System expostos no salão nobre na associação dos empregados no comércio é escolhido por ser considerado o mais apropriado às condições topográficas de Manaus, além de ser mais econômico, porque a cidade já tem um sistema de galerias que exige apenas uma ampliação e retificação de acordo com a nova drenagem. Os condutores da rede de esgoto serão de cimento armado e reforçado e o encanamento de drenagem na parte que passar sob os prédios a esgotar, esse sistema foi planejado para atender 60 mil habitantes naquele período, atendendo principalmente as localidades mais populosas. 

Fotos de Chico Batata


HOJE TUDO ISSO  É ESGOTO, MAS ANTES ERA A ENTRADA PRINCIPAL DO IGARAPÉ DO ESPÍRITO SANTO.

GALERIAS PLUVIAIS CONSTRUÍDAS NO LOCAL ONDE ERA O IGARAPÉ DO ESPÍRITO SANTO.


MEDALHÃO  COM SÍMBOLO DO IMPÉRIO DO BRASIL

Marco da construção das galerias Pluviais construídas pelos ingleses. Local onde ficava a ponte sobre o Igarapé do Espírito Santo - 2005


ABERTURA DO MARCO

Local onde fica o Medalhão de Concreto que marca o local exato onde ficava a ponte do igarapé do Espírito Santo e que foi aterrado, este medalhão é português, há um desenho nele da coroa Portuguesa. 

Fonte: MANAUS DE ANTIGAMENTE





Povos indígenas no Amazonas


No estado do Amazonas, existe espalhada - ao redor de Manaus - de acordo com o Programa Amazonas Indígena, elaborado pela Fundação Estadual de Política Indigenista (Fepi), da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - uma população indígena de 120 mil indivíduos de 66 etnias, que falam 29 línguas. É a maior população indígena do Brasil.

Confira as etnias

APURINÃ
Falam a língua apurinã, do tronco lingüístico aruak, e habitam ao longo do rio Purus e seu afluentes.

ARAPASO
Vivem no médio Uaupés, abaixo de lauareté, e no rio Negro e em São Gabriel da Cachoeira.

BANAWÁ
Também conhecidos por banawá-yafi, ocupam a região do rio Purus.

BANIWA
Vivem na fronteira do Brasil com a Colômbia e Venezuela, às margens do rio Içana e seus afluentes Cuiari, Aiari e Cubate, além de comunidades no alto rio Negro/Guainía (nome do rio Negro fora do Brasil, acima da foz do rio Casiquiare) e nos centros urbanos de Santa Isabel, São Gabriel da Cachoeira e Barcelos.

BARÁ
Falam a língua tucano e são também chamados de waípinõmakã. Habitam principalmente as cabeceiras do rio Tiquié, acima do povoado de Trinidad (Colômbia); o alto Colorado e Lobo (afluentes do Pira-Paraná).

BARASANA
Esse povo vive nos igarapés Tatu, Komeya, Lobo e Colorado, afluente do Pira-Paraná, e no próprio Pira-Paraná, em território colombiano, onde se encontra a maioria de seus indivíduos.

BARÉ
Habitam a calha do rio Negro, desde o Casiquiari até seu médio curso, e ainda o baixo rio Xíe.

DENI
Habitam a região dos rios Juruá e Purus, falam o arawá.

DESANA
Vivem na região do alto rio Negro, às margens do rio Tiqué e seus afluentes.

JIAHUI
Vivem na região do médio curso do rio Madeira, no sul do Estado do Amazonas.

HI-MERIMÃ
Praticamente desconhecidos, habitam a região do médio rio Piranha, entre o Juruá e o Purus, no Amazonas.

HIXKARYANAS
Vivem na região do Baixo Amazonas.

JAMAMADI
Grupo que se inclui entre os povos pouco conhecidos da região dos rios Juruá e Purus e que sobreviveram aos ciclos da borracha, em meados do século 19.

JARAWARA
Vivem na região do médio Purus e comercializam produtos que extraem da mata, como a castanha-do-Brasil, o látex, óleo de copaíba e sorva.

JUMA
São poucos indivíduos que vivem na região do rio Purus.

KAIXANA
Este grupo, que vive na região do alto rio Solimões, fala português e nheengatu, língua desenvolvida a partir do tupinambá.

KAMBEBA
Vivem na região do triângulo Jutaí-Juruá-Solimões.

KANAMARI
Outras denominações: tukuná e canamari. Também habitam a região do triângulop Jutaí-Juruá-Solimões.

KANAMANTI
Vivem na região do rio Purus e são conhecidos também por kanamati.

KARAPANÃ
Povo que, no Brasil, se encontra disperso em alguns povoados do Tiquié e Negro; na Colômbia, vive na região do Cano, afluente do rio Uaupés.

KATUENA
Habitam a região do baixo Amazonas.

KATUKIANA
No Amazonas, vivem na região do triângulo Jutaí-Juruá-Solimões.

KATURINA
Vivem na região do triângulo Jutaí-Juruá-Solimões.

KATURINA PANO
Vivem na região dos rios Juruá e Purus, próximos ao Estado do Acre.

KAXARARI
No Amazonas, habitam a região do alto Madeira, nas proximidades de Rondônia, e podem ser encontrados nos dois Estados.

KAXINAWÁ
Vivem no Peru e no Brasil, nos vales do Purus e Juruá, nos limites dos Estadps do Acre e do Amazonas.

KOKAMA
Conhecidos como Omáguas, no Amazonas habitam as Terras Indígenas Sa potal (município de Fonte Boa), Espírito Santo (município de Jutaí), Evaré I (municípios de São Paulo de Olivença e Tabatinga) e Kokama (município de Tefé).

KORUBO
Vivem na região do vale do Javari e são conhecidos como "caceteiros" devido ao hábito de utilizarem uma borduna como arma de ataque.

KUBEO
Presentes no Amazonas, onde vivem na região noroeste, às margens do rio Uaupés e seus afluentes (alto rio Negro), e na Colômbia.

KULINA PANO
Vivem em grupos familiares ao longo do Curuçá-Javari.

KURIPACO
Vivem na região noroeste do Amazonas, no baixo médio rio Içana (alto rio Negro), acima da comunidade de Matapi.

MADIHA-KULINA
Habitam as margens dos rios Juruá e Purus, avançando sobre o Estado do Acre.

MAKU
Vivem ao longe das calhas dos rios Tiquiê, Papuri, Traíra, Curicuriari, Negro e Japurá (alto rio Negro).

MAKUNA 
Vivem principalmente no território vizinho da Colômbia. No Brasil ocupam a região do alto Castanha, afluente do Tiquié; o igarapé Onça (afluente do alto Tiquié); e o alto Tiquié.

MAWYANA
Fazem parte do grupo que habita a área Nhamundá-Mapuera, na região do baixo Amazonas, já nos limites com o Estado do Pará.

MARUBO
Maior etnia do vale do Javari.

MATIS
Vivem na região do vale do Javari,às margens do rio Ituí.

MATSÉ
Também chamados de mayoruna, vivem em grandes malocas às margens do igarapés Lobo e Quixito, no Parque Indígena do Javari, fronteira com o Peru.

MIRANHA
indios que habitam o triângulo Jutaí-Juruá-Solimões.

MIRITI-TAPUYA
Vivem na região noroeste do Amazonas, às margens do rio Uaupés e seus afluentes (alto rio Negro), e baixo e médio Tiquié.

MUNDURUKU
A maioria da população munduruku da bacia do Madeira habita a Terra Indígena Coatá-Laranjal, no município de Borba, no Amazonas. Parte deles, porém, vive fora dos territórios demarcados, ao longo da rodovia Transamazônica, nas proximidades de Humaitá.

MURA
Vivem no baixo e médio Madeira, de onde se espalharam no século 18 até São Paulo de Olivença, no Solimões; Oriximiná, no Trombetas;e a foz do Jamary, no sul.

MURA-PIRAHÃ
Habitam a região do alto e médio rio Madeira.

PARINTINTIN
Habitam a região do alto e médio rio Madeira.

PAUMARI
Povos indígenas do médio Purus.

PIRA-TAPUYA
Habitam a região noroeste do Amazonas, às margens do rio Uaupés e seus afluentes (alto rio Negro), e médio Papuri, nas proximidades de Teresina.

SATERÊ-MAWÉ
Concentram-se na região do baixo Amazonas, próximos às cidades de Maués, Barreirinha e Parintins, e às margens dos rios Maraú e Andirá.

SIRIANO
Sua maior população (665 indivíduos em 1988) encontra-se na Colômbia, mas pode ser encontrados também dispersos em rios da bacia do Uaupés e no rio Negro.

TARIANA
Atualmente vivem na região noroeste do Amazonasm às margens do médio Uaupés, baixo Papuri e alto Iauiari. O centro do povoamento fica entre as cachoeiras de Iauareté e Periquito.

TENHARIN
Consistem em três grupos indígenas que vivem no curso m+edio do Madeira, ao sul do Amazonas.

TIKUNA
Grupo étnico mais numeroso do Brasil, os tikunas ocupam 26 Terras Indígenas, habitando principalmente o alto Solimões, nos municípios de Benjamin Constant e Tabatinga, e se estendendo até o município de Manacapuru.

TORÁ
Vivem nas proximidades da foz do rio Marmelos, região do alto Madeira.

TSOHOM DJAPÁ
Perambulam pela região de cabeceira dos rios Jutaí, Curuena e Jandiatuba, no vale do rio Javari.

TUYUKA
Vivem na região noroeste do Estad, às margens do rio Uaupés e seus afluentes (alto rio Negro).

WAIMIRI-ATROARI
Vivem na região do baixo rio Negro/Solimões. São também conhecidos como Kinja Kinã, Uaimiry e Crichaná.

WAI-WAI
Ocupam a região dos rios Mapuera, Trombetas e Cachorro.

WANANO
Vivem na região noroeste do Amazonas, às ,argens do rio Uaupés, entre a cachoeira de Arara e Mitu, e seus afluentes (alto rio Negro).

WAREKENA
Habitam principalmente as margens do rio Xié e o alto rio Negro, do lado colombiano e venezuelano.

WITOTO
Vivem na região do alto Solimões, fronteira com o Peru e a Colômbia.

YANOMAMI
Vivem na região do alto e médio rio Negro, em terras brasileiras e venezuelanas.

YE´PÃMAHSA-TUKANO
Vivem na região noroeste do Amazonas, principalmente nos rios Tiquié, Papuru e Uaupés, e também no rio Negro, a jusante da foz do Uaupés, inclusive na cidade de São Gabriel da Cachoeira.

ZURUAHA
Habitam as terras altas da margem direita do rio Cuniuá, afluente do rio Tapauá, que por sua vez, é tributário do rio Purus.







terça-feira, 13 de maio de 2014

Brinquedos Infantis da Manaus Antiga


Esta não é a minha seara, por assim dizer. Devo pedir licença aos estudiosos da matéria para invadir este mundo de encantamentos, mas como em todos nós vibra sempre uma criança, posso crer que não vou incomodar ressuscitando alguns brinquedos que fizeram e, por aí afora, ainda devem fazer a alegria de muitas crianças.

Não é coisa tão antiga, porque usada no meu tempo de menino e ainda pude ver no bairro da Cachoeirinha, em Manaus, em julho de 1986 quando tomei a termo as notas que redundaram nesta série Memória.


Carro de Pneu 

Constitui-se de um pneu de automóvel, usado e sem câmara, bastante oleado por dentro com graxa ou óleo queimado, e dois cabos de vassoura (madeira roliça) com os quais a criança pode empurrar o pneu, levando os cabos de vassoura em posição inclinada, na altura do peito. Para frear deve-se fechar os cabos de vassoura bruscamente, no sentido interior do pneu, encostando-os, ao mesmo tempo, nas laterais inferiores internas e superiores externas do pneu. As varas de madeira, quando em função, formam um V , no sentido da direção do pneu. 

O resto é a alegria e criatividade, porque o carro buzina, faz barulho quando freia, patina no asfalto, canta pneu na arrancada, tudo conforme o desejo do brincante e de acordo com a sua voz. 


Futebol de botão de caroço de tucumã 

Tucumã é fruta regional bastante saborosa, rica em vitaminas e pode ser servida nas mesas de lanche e café da manhã, inclusive como sanduíche de pão bem quentinho e na manteiga. 

Os caroços são raspados e partidos ao meio, ou serrados para esbandear de forma bem certinha. Os tamanhos podem ser diferentes, como no caso daqueles que vão servir de "beques", que são cortados em 1/3, para constituírem botões mais altos. Deve-se fazer jogadores mais baixos, de circunferência maior, para jogarem no ataque do time. 

Devem ser lixados com lixa de madeira, ou mesmo no asfalto, para eliminar todos os resíduos da casca externa do caroço, já cortado, para ficar o mais liso possível. Depois usa-se passar lixa fina e encerar com cera de carnaúba, graxa para sapatos, preta ou marrom , seguida de polimento com vela ou novamente a cera de carnaúba. 

Composto o time, cuida-se de forma especial do goleiro que pode ser feito de caixa de fósforos vazia, recheada de chumbo derretido, ou mesmo areia ou barro molhado, como preferem alguns especialistas neste brinquedo. Depois se deve revesti-lo com as cores do time escolhido, ou com o nome do jogador. 

A bola utilizada é de cortiça, redonda, cortada lentamente com lâmina tipo gillete, a partir de uma rolha normal, de garrafa de vinho, sem buracos. Deve ser lixada com lixa bem fina, lentamente e com todo o cuidado. 

Para movimentar os jogadores deve-se usar pente de cabelo, tipo "flamengo", ou outro com a mesma flexibilidade. As traves que são armadas no campo de jogo, são feitas de madeira comum ou arame retorcido, com rede tecida em linha, barbante ou de pano de filó, no formato tradicional do campo de futebol. 


Trator ou carro de latas 

Já vi muito carro andando por aí. Eu mesmo fiz os meus, na alegria dos meus primeiros anos. Usam-se latas de leite em pó, bem tampadas, cheias de areia branca e algumas pedras pequenas. As latas são furadas no fundo e na tampa, com um só furo, por onde se passa o arame grosso no qual se liga o outro de lata igual, com o mesmo tamanho e peso aproximado que, ao final, emenda-se em outro arame fino, (com duas pernas separadas) com o qual pode-se puxar o carro que normalmente é de três latas, atreladas. 


Baladeira 

Para fazer esta brincadeira que também parece arma, cortam-se duas peças de câmara pneumática, tipo média, com mais ou menos 3 cm de largura e 25 cm de comprimento. Devem ser unidas a uma peça de couro, de 4 a 5 cm de largura e 6 a 8 cm de comprimento com 1 corte em cada extremidade no qual se introduza fita de câmara, dobrando-a para ultrapassa-la e unindo-a com barbante forte e nó de porco, passando a constituir peça única. A parte de couro deve ser engraxada , pelo lado externo da peça, tendo-se o devido cuidado para não dentar a fita de câmara quando cortá-la. Nas extremidades da peça deve ser colocado barbante de boa qualidade, em fita dupla, com mais ou menos 15 centímetros de comprimento para prender nos dedos da mão do atirador. Devem ser utilizados os dedos indicador e vizinho, em laçadas simples. Pode ser usado com forquilha de preferência retirada dos galhos de goiabeira que verga mais não quebra. A forquilha forma um desenho semelhante ao da letra ypisilon, em madeira cortada de galho de árvore, com perna média, de mais ou menos 20 cm, para o atirador ter onde segurar com firmeza. 

Coloca-se a pedra, pequena, redonda de preferência, que passa a funcionar como bala. Deve ser usada como brinquedo, mas inadvertidamente pode transformar-se em arma. Deve-se deixar o cordão bem no meio do dedo. Coloca-se o laço no máximo até a marca da primeira falange de cada dedo. Para atirar ou balar, transforma-se o dedo em formato de forquilha, como se fosse um ypisilon. 


Bola de meia 

Futebol é paixão de verdade. No meio da rua, nas quadras, nos campos, nas salas da casa, nos corredores do colégio, em qualquer lugar pode-se fazer um campinho ou mesmo jogar uma bola, fazer embaixadas, chutar na parede, tabelar com o colega ou bater de pé em pé, e até narrar o jogo como se fazia no rádio antigamente com toda a riqueza de detalhes.É que a produção industrial ainda não tinha variado tanto em forma e custos para fazer bolas de todo o tipo e tamanho e com preços acessíveis. 

A bola de meia surgia da meia usada do homem, sem furo, de preferência de algodão. Para fazê-la deve-se encher a meia de papel, de preferência de jornal velho amassado, dando forma de bola, enfiado até o fim, de modo a ficar até próximo o calcanhar da meia. Depois se dá um nó simples com a própria meia, uma forma de laçada, virando-se a outra ponta da meia do avesso até cobrir a parte que está cheia de papel, cobrindo-a inteiramente fazendo-se depois uma costura simples para arremate. Depois, é só colocar a bola no campo e viver a emoção que o futebol permite, com o sonho de ser campeão. 

Ilustrações: Carlos Guimarães Maciel Jr.

Texto: Robério Braga




Getúlio Vargas em Manaus



1940.

O Rio de Janeiro era o centro do poder. Do Palácio do Catete emanavam as decisões presidenciais, mas a presença de Getulio Vargas deveria se expandir ainda mais, diretamente pelo País. O Norte precisava ser visitado. Com esta determinação, o presidente seguiu do Rio de Janeiro para Belém, com parada técnica na Bahia; de Belém para Belterra e de lá até Manaus indo depois a Porto Velho.

O que terá trazido o presidente ao Norte do país? O sonho da juventude? que ele anunciou de logo no discurso pronunciado aos 10 de outubro no Ideal Club quando afirmou, "Senhores - ver a Amazônia é um desejo de coração na mocidade de todos os brasileiros", a necessidade de consolidação do poder político ? ou veio mesmo ver de perto se tinham sido confirmadas as previsões de 1933, quando assegurou de forma categórica: "A Amazônia ressurgirá".

É verdade que a Amazônia seduzia e seduz a todos. Estimula, encanta, desafia, provoca, e a todos vence.

Como era natural na acanhada cidade encravada na selva, bucólica, e ainda vivendo forte saudade do esplendor do período áureo da borracha, Manaus se preparou para receber o presidente, e desde os primeiros dias de setembro diversas providências começaram a ser tomadas, emanadas de reuniões no Palácio Rio Negro com autoridades da administração e empresários.

Outubro, 9.Parintins.

Foi na terra dos parintintins o primeiro contato do presidente em solo amazonense. Para reabastecer o avião, no curso da viagem de Belém para Manaus, tendo saído de Belterra às primeiras horas do dia, o presidente Vargas desembarcou em Parintins onde foi recebido pelo prefeito, ao lado do chefe da colônia dos japoneses, sr Xahamara. O avião Comodoro, da Cruzeiro do Sul Transportes Aéreos levantou vôo por sobre a mata virgem, a que o jornalista de A Tarde, do Rio de Janeiro, em notícia veiculada naquele órgão, assim se refere: A viagem foi feita por sobre aquele desnorteante espetáculo deste pedaço do globo, onde a terra ainda está sendo construída.

O presidente Getulio Dornelles Vargas chegou a Manaus, a cidade sorriso. Eram 13:30 horas. Desde cedo era intenso o movimento de operários, populares, estudantes, autoridades e militares. Em alas, os estudantes se enfileiravam do cais do porto até o Palácio Rio Negro, nas ruas embandeiradas com cores vivas e frases de efeito, escolhidas entre inúmeros discursos e entrevistas do presidente, falando da
Amazônia.

Desembarcado, saudado por banda de música e cumprimentado pelo Interventor Federal, o Dr Álvaro Botelho Maia, o presidente Vargas desfilou entre o povo e os estudantes que agitavam bandeirolas por todo o trajeto, até o Palácio onde ficou hospedado.

Flores em pétalas caíram sobre o presidente, lançadas pelas alunas da Escola Normal, e o avião aquatizou cercado por pescadores e barcos esportivos. Após o desembarque do presidente, desceu do avião o dr Gurgel do Amaral. Na comitiva pelas ruas da cidade, em carro aberto, Getulio Vargas, Vivaldo Lima então candidato do Partido Trabalhista Brasileiro ao Senado da República, Gregório Fortunato e o interventor Álvaro Maia. Na praça do Congresso uma multidão se aglomerava com faixas que enalteciam Vargas e Álvaro Maia.

As delegações operárias portavam faixas de louvação, com frases do tipo "Aclamemos o homem que vai salvar a Amazônia" ou "Viva o presidente que nacionalizou o nosso trabalho e instituiu as leis sociais". No trajeto foi saudado pelo prefeito de Manaus, o dr Paulo Marinho. No Palácio foi à sacada de onde acenou para o povo, pouco antes do almoço.

Conheceu as autoridades militares no Estado: o comandante do 27º Batalhão de Caçadores, o inspetor do Porto, comandante Odenato Moura, e o coronel José Pessoa, da Polícia, além de outras personalidades com as quais dialogou animadamente, especialmente com o inspetor da Saúde Pública, o diretor do Ensino e o juiz de menores, o dr André Vidal de Araújo.

Na residência do deputado Alfredo Jackson Cabral, o presidente mereceu um jantar com autoridades e políticos locais, e no quintal na rua Alexandre Amorim, no bairro de Aparecida, organizada uma larga mesa, podia-se ver várias autoridades e figuras da república como o embaixador Batista Luzardo, os deputados estaduais Plínio Ramos Coelho, Áureo Mello, o jornalista Umberto Calderaro Filho, Albérico Antunes de Oliveira, observados por populares que espreitavam na cerca de acha de lenha, os vizinhos simples e pobres do deputado amazonense.

O presidente veio, viu, prometeu e comprometeu-se com os célebres discursos proferidos em praça pública, animou escritores locais, agitou a política amazonense, despertou forte o seu partido político e, contemplando a natureza amazônica, foi sobre a mata selvagem que também pilotou o próprio avião presidencial. De sua passagem restam também os inúmeros registros em vias públicas, praças e logradouros, e o busto colocado no hall de entrada do Palácio Rio Branco, sede da Assembléia Legislativa do Estado.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Avião Amazonense


Tomara que não pensem que se tratava de invencionice, ou coisa parecida. É que nos dias que correm pouco se sabe e se vai armazenando do passado, ainda que mais recente passado, porque o que se vislumbra é sempre o futuro promissor a partir das máquinas e equipamentos sofisticados, da técnica e da arte de conhecer o mundo sentado diante de um computador viajando pela internet.

O Amazonas teve o seu próprio avião, fabricado aqui mesmo, por mais de dois anos, nos fundos do Palácio Rio Negro, a casa do comerciante alemão que virou sede do governo e atualmente é centro cultural a serviço da música, dança, artes plásticas e do teatro. E vou colher a informação original no artigo de Danilo Du Silvan, lançado no O Jornal de 30 de maio de 1966.

Era o ano de 1928. Estava no governo do Estado o mineiro Ephigênio Ferreira de Salles. Nas águas do rio Negro, a partir do Armazen 20 da Manáos Harbour Limited, o hidroavião amazonense ganhou o mar negro numa manhã de sol quente. Construído nas oficinas cedidas pelo governador, pelas mãos do mecânico e motorista Silvino José dos Santos com o auxílio de Cromwell Ferreira de Carvalho. O avião respondia ao entusiasmo que sobre nós lançou a passagem do avião Santa Maria que aquatizou em Manaus em 1926 - do marquês de Penedo -, que chegava de uma longa viagem por vários pontos do país.

Tudo começou com o modelo de papelão e foi realizado com chapas metálicas, lonas e madeiras do Amazonas como cedro e andiroba; e a hélice de tração feita de pau -d´ arco, obedecendo as mesmas linhas do hidro-avião Santa Maria que, igualmente, seguia as linhas do Jaú com o qual o aviador brasileiro Ribeiro de Barros atravessara o Atlântico.

Posto na água, diante de um público que acorreu especialmente para ver o invento, o avião deslocava-se na baia do rio Negro mas o motor não conseguia impulsioná-lo para o vôo. Diante do fato e com as explicações que o construtor lhe dera, o governador fez votar na Assembléia Legislativa dotação orçamentária especial que financiasse uma viagem ao Rio de Janeiro e lá pudessem ser feitos estudos de compatibilização do aparelho com o motor que deveria dispor para conseguir voar. Eram reparos mecânicos que exigiam a análise de especialistas em matéria não dominada inteiramente pelo idealista que o construíra. A verba de dez contos de réis nunca chegou a ser liberada pelo erário e Silvino ficou em Manaus, construiu outra hélice, fez novos flutuadores mas sem conseguir resolver o problema do motor, foi perdendo o entusiasmo.

O hidro-avião batizado de Amazonas-Brasil não chegou a levantar vôo, mas demonstra o entusiasmo e a capacidade inventiva da nossa gente. Sua hélice encontra-se no Museu Crisantho Jobim, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.

Seu principal auxiliar Cromwell Ferreira de Carvalho nascido em 23 de maio de 1910, era filho de João de Deus Carvalho e Maria Ferreira de Carvalho e foi nomeado originalmente para o cargo de Guarda Civil de 2a classe, em 6 de novembro de 1931 e trabalhou na Inspetoria do Trafego. Brevetou-se depois pelo Aero Clube do Amazonas em 11 de julho de 1945, obtendo o registro 4820, tal a paixão que o dominou, mas anos depois foi motorista do governador Álvaro Maia.

Silvino faleceu em Manaus em 18 de junho de 1958, deixando viúva a senhora Maria Rodrigues Souza Santos, que residia na rua Quintino Bocaiúva 535

Foto: Acervo Mário Ypiranga Monteiro 

Seringal Mirim


No período de 1911 a 1920 Manaus vivia a expectativa de tendência de baixa crescente no mercado da borracha, a base de sua economia. Todos os esforços das forças econômicas do Estado do Amazonas se destinavam a estimular a produção da hévea. Não era previsível, ainda, o esvaziamento da cidade e a quebra geral da economia que viria poucos anos depois.

Neste mesmo período a Associação Comercial do Amazonas que representa ainda agora os empresários, fundada em 1871, iniciou os estudos para plantio de seringueiras, " em terreno entre o atual Boulevard Amazonas e a rua de José Cláudio Mesquita, onde corriam trilhos de bondes, com a plantação de mais de cem seringueiras" sob o comando do comendador José Cláudio Mesquita, antigo presidente da entidade e um incentivador dos estudos de cultivo e tratamento da espécie natural da Amazônia.

Na mesma época foi definido que o dia 24 de junho seria considerado o dia da Seringueira e, naquele aprazível logradouro, todos os anos, far-se-ia a plantação de um árvore do tipo.

Desta forma foi constituído o Campo Experimental do Seringal Mirim que permaneceu em atividade mesmo após a morte do ilustre comendador português em 6 de novembro de 1923.

Em 1937 o Seringal estava pujante, belíssimo recanto, que servia de lição concreta para o tratamento de tão importante espécie regional. Em 1939 discutia-se a sua encampação pelo governo do Estado, procurando apoio do Ministério da Agricultura. Em 19 de abril de 1943 foi criada a Escola de Seringueiros Jose Cláudio Mesquita, e o Seringal passou a integrar o Serviço de Fomento Agrícola do Estado, na administração Álvaro Botelho Maia, funcionando como uma Escola de experiência de látex, sangria de plantações de seringueiras, e estava sob a direção do agrônomo Lourenço Faria de Mello. Em 1944 a escola foi visitada pela Comissão Brasileiro-Americana de gêneros alimentícios, em inspeção oficial.

O período era de graves dificuldades para os mais pobres. André Vidal de Araújo e Helena Cidade de Araújo, esposa do seu irmão, político, Ruy Araújo, cuidavam da assistência às lavadeiras e viúvas. Neste clima e por esta influência o governo do estado criou a Vila Assistencial da Praça da Liberdade em área contígua ao seringal, no prolongamento da pista que seguia em direção ao bairro do Giráo, em casas de madeira entregues às viúvas, quase todas integrantes da comunidade negra instalada anteriormente naquele bairro.


Nelas viveram por muitos anos figuras que se tornaram conhecidas na cidade, como Antonia dos Anjos, Marcelira, Antonia Manbeca, Eulália que também eram os anjos da guarda do seringal . Na área organizou-se, naturalmente, uma comunidade populacional de caráter afro-brasileiro, com as festas representativas , os festejos de Santo Antônio, São Benedito e São João, surgindo brincadeiras e folguedos de grande apelo e apoio popular.

Ali tudo se fazia com estilo e honra a cultura afro-brasileira. Congá de cultos, terreiro, centro religioso de todos os matizes, inclusive o terreiro de Maria Estrela que morava com Antonia Lobão, depois transferido para D.Joana Papagaio, a seguir sob as ordens de mãe Margarida e depois com Ribamar. Era área de batuque, de grande magia e encantamento. Lugar de respeito. Foi ali que durante muitos anos, o boi bumbá Mina de Ouro, na frente da praça Liberdade, fez o seu curral, antes da taberna do Alípio Guimarães do sítio de Maria dos Santos Pereira Wanderley e do hospital do isolamento Chapost Prevost.

Esta mesma área, em 1979 foi transformada em reserva fundiária estadual pelo decreto 4590, de 18 de junho de 1979, atendendo Exposição de Motivos que apresentei à Comissão do Patrimônio Histórico, e destinado a implantação do Museu do Seringueiro, cujo projeto chegou a ser desenvolvido pela museóloga Veralúcia Ferreira de Souza, mas não foi executado. Na ocasião foi realizado um detido levantamento de todas as seringueiras ali existentes, da área que sobrara, inclusive das antigas residência de lavadeiras que, com o tempo, e pela exploração imobiliária, já vinham sendo expulsas da região, há algum tempo.

Naquele ano de 1980 asfaltaram a região, já cortada pela avenida Djalma Batista, que fora rasgada na administração do prefeito Jorge Teixeira de Oliveira e as invasões das terras se intensificaram. Quando vereador de Manaus, 1989-92, ao lado de outros parlamentares, investigamos a situação procurando interditar a construção da central de energia elétrica que ali está edificada, e nada foi possível fazer, quer pela falta de documentos da região, como pelo interesse, empenho e velocidade das ações da empresa de energia federal que dominou a região, comprando de terceiros áreas que, verdadeiramente, não lhes pertenciam.

E o Seringal Mirim perdeu-se no tempo e pelo pouco interesse dos nossos governantes. E a praça da Liberdade ficou somente na memória dos que viveram aqueles anos ou amam Manaus.


Por Rério Braga:
Historiador, ex-presidente da Academia Amazonense de Letras e atual presidente do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e Secretário de Estado da Cultura, Turismo e Desporto.






Adolpho Guilherme de Miranda Lisboa ( Roberto Mendonça )


Dicionário ortografia da época será preservada, afinal Adolpho (com ph) Lisboa assim se encontra incrustado no frontispício do Mercado Central, um marcante ícone de sua administração na Capital. Também, porque na atualidade se convencionou denotar as pessoas públicas pelo indicativo do nome e sobrenome, ou mesmo, ratificando a práxis, unicamente pelas iniciais (FHC). Assim, pois, espero desbravar esta personalidade da historiografia amazônica, admitindo o curtíssimo espaço para rememorar suas atividades.

O coronel (porque comissionado nesse posto para comandar o Regimento Militar do Estado - RME, em nossos dias, a PMAM) Adolpho Lisboa nasceu na capital da província da Bahia, "de cor morena, cabelos pretos lisos e olhos pardos", em 22 de janeiro de 1862, filho do capitão Felippe Guilherme de Miranda Lisboa, então servindo no 7º Batalhão de Infantaria do Exército, e de Olympia Rosa de Oliveira Lisboa. Sua chegada à Amazônia ocorreu aos cinco anos de idade, segundo fonte do RME, ou quando recém-nascido, conduzido por seu pai, este transferido para o 5º Batalhão da mesma arma, com sede em Belém. Esta notícia reputo mais confiável, porque o mesmo foi batizado na freguesia de Afogados, quando do trânsito da família por Recife.

Em Belém, Adolpho Lisboa viveu a sua infância e fez seus estudos primários, sem que se tenha quaisquer particularidades. Aos catorze anos de idade (1876), assentou praça no 11º Batalhão de Infantaria, na condição de 1º cadete, usufruindo de legislação pertinente, por se tratar de filho legítimo de oficial do Exército. Mesmo ocupando seu pai o posto de major reformado. Essa legislação imperial possibilizava às Forças Armadas recrutar com destaque os filhos de seus subalternos, para sanar em parte a deficiência de efetivo, diante do desinteresse público em alistar-se no Exército. Dessa maneira, o cadete Adolpho Lisboa, em 1º de março de 1878, aos dezesseis anos!, é promovido a Furriel (atual 3º sargento).

E tem mais promoções naquele ano. Em 27 de junho, foi promovido a 2º sargento. A 9 de julho, embarca "com a ala esquerda de seu batalhão" para a província do Amazonas, presidida pelo brigadeiro Rufino Eneas Gustavo Galvão, barão de Maracaju, onde desembarca no dia 16. Para a manutenção das eleições que se realizavam na província, seguiu no dia 28, ainda de junho, para Vila Bela da Imperatriz, atual Parintins, donde regressou em 15 de agosto. Por sua atuação nessa diligência, Adolpho Lisboa merece elogio do comando, publicado em ordem do dia, e inaugura sua presença no Amazonas. E, em 5 de outubro, conquista novo acesso, atingindo a graduação de 1º sargento.

Logradas estas promoções, este graduado volta-se para o oficialato. Contaria com alguma benevolência de superior, ou mesmo ainda com adjutório paterno? Ou, em linguajar corrente, apenas se "virava" na caserna em busca de progresso. A despeito de sua aptidão para o serviço militar, entretanto, tratava-se de um jovem renitente contra as ordens superiores. A leitura de sua fé-de-ofício estampa inúmeras correções que lhe foram aplicadas, ao ponto de responder Conselho de Investigação (23.07.1886), acusado de ter saído do quartel a paisano, quando impedido. Antes do veredito, o Comando das Armas liberou o acusado da prisão, por julgar suficiente o castigo. Nesta ocasião, Adolpho Lisboa, aos 24 anos, "obteve permissão para casar-se com dona Laura Leduc" (de origem francesa, consoante o historiador Antônio Loureiro), não se reconhecendo outros pormenores, inclusive sobre descendência. Apenas o registro da cerimônia realizada, em Belém, em 18 de outubro de 1886.

No final do período provincial, Adolpho Lisboa servia no Comando das Armas, na capital paraense. Ali devotou-se à movimentação pela Proclamação da República (15.11.1889), contemporâneo do então capitão Constantino Nery, que teria uma evidenciada ascendência sobre o memorializado. Este, por seu empenho neste evento nacional, foi promovido ao oficialato, em 4 de janeiro de 1890. Investido da patente, o tenente foi nomeado secretário do Comandante das Armas. O general Bento Fernandes, quando no comando do 1º Distrito, enredou-se, em Manaus, no desdobramento de uma quartelada (02.1892), que buscava depor manu militari o governador Eduardo Ribeiro. Neste funesto acontecimento, descrito com justeza pelo professor Mário Ypiranga, o tenente Adolpho Lisboa operou sua (re)apresentação na Cidade. E, igualmente acredito, que serviu para consolidar a amizade e a lealdade entre os mencionados militares.

Por ocasião da Campanha de Canudos (1897), o major Constantino Nery integrou a quarta expedição, cuja experiência verteu em trabalho literário; quanto ao tenente Lisboa, posto à disposição do governador José Paes de Carvalho, foi comissionado major fiscal no esquadrão de cavalaria da Força Policial do Pará. Em 6 de agosto, assumiu interinamente o comando deste Corpo, nele permanecendo até 4 de novembro, quando, encerrado o conflito Canudense, as tropas do Regimento Amazonense haviam transitado por Belém, e a mesma engalanada capital aguardava seus combatentes. O homenageado permaneceu no Esquadrão, comissionado no posto de tenente coronel comandante, até 22 de maio de 1900, pois aguardava a transferência para a guarnição do Amazonas.

Já eleito, ultimava a sua posse no governo do Amazonas, ocorrida em 23 de julho, o senador Silverio José Nery. Era filho primogênito de um seu homônimo, oficial do Exército, e irmão do major Antônio Constantino Nery, que haveria de sucedê-lo no quadriênio seguinte. Como havia uma ligação mais que profissional entre os irmãos Nery e o tenente Adolpho Lisboa, Silverio nomeou-o, em 12 de dezembro, coronel comandante do Regimento Militar do Estado. Convém especificar que a força policial usufruía de transbordante momento, tanto em efetivo, distribuído em dois batalhões, quanto em material de cavalaria e de artilharia, além de serviços próprios das armas do Exército. Haviam duas bandas de música! Para tanto deleite, recordo que a Capital amazonense transitava no ápice do período áureo da borracha.

Em 10 de janeiro seguinte, o comandante do RME foi obrigado a viajar até Belém, a fim de responder processo criminal, indiciado por ter detratado um subordinado do Exército. Absolvido pela Corte Militar, desembarca na capital amazonense, em 27 de março, e reassume o comando do Regimento. Prossegue na função até 19 de outubro, quando a deixa provisoriamente para retornar à Belém, desta vez em comissão do Estado. Quase no final de dezembro (28) é nomeado vice-provedor da Santa Casa de Misericórdia.

No ano seguinte (1902), é mantido no comando do Regimento. Porém, ainda sem explicação, por ato de 13 de janeiro, é igualmente nomeado Superintendente (prefeito) de Manaus. Acredito que manteve as duas gestões, decerto com um substituto interino no comando militar. Tanto assim que, em 10 de maio, foi dispensado do comando. Substituído pelo coronel Camilo de Lelis Pacheco Amora, que permanece no comando até 13 de agosto, afastado por desídia, ocasião em que retorna o coronel Adolpho Lisboa. Nesta condição, segue até janeiro de 1903, quando volta a visitar Belém e, como exigência da época, passa o comando temporariamente ao coronel Antonio Emydgio Pinheiro. Ao final de 1903 (26.11), Lisboa alcança o posto de capitão do Exército. E entre viagens à Belém, com substituições temporárias, e a administração da prefeitura municipal, Lisboa segue no comando até 25 de junho de 1904.

A cidade de Manaus estava às vésperas da posse, em 23.07, do governador Antonio Constantino Nery. Com a posse de Nery, o coronel Adolpho Lisboa é nomeado em 9 de setembro, e assume a 12, o comando do Regimento. Mais adiante, em 5 de janeiro de 1905, sucede ao dr. João Coelho na prefeitura municipal da Capital. Ao mesmo tempo, é substituído no Regimento Militar pelo coronel Emygdio Pinheiro. Mas, ainda se necessita de pesquisas para se detalhar as diferentes datas para os diversos cargos exercidos pelo coronel Adolpho Lisboa. A definitiva exoneração, do comando do RME, ocorreu em 27.12.1907, pois se aproximava o final do governo Constantino Nery. Todavia, como alcaide, que teve o governo mais duradouro na prefeitura, Lisboa efetivou inúmeras obras na Capital, tratando de seu embelezamento e de sua ampliação ordenada, obras ainda presentes na Cidade. Sua administração foi a amplificação do arrojo urbanístico empreendido principalmente por Eduardo Ribeiro (1892-96).

Não há indicação de seu destino final, onde e quando faleceu, nas ralas biografias consultadas. Em pesquisa no Arquivo do Exército (RJ), copiei documento que autoriza o capitão de infantaria Adolpho Lisboa, ao final de 1907, viajar à Europa, em tratamento de saúde. Mas esta informação registra o mestre Bittencourt (1973), que apreciou aquele tempo quase desenfreado de progresso de nossa urbs. E descreve sucintamente Adolpho Lisboa, analisando a sua personalidade, como um esquisitão. Certamente, no dealbar deste novo século, será dificílimo entender como um administrador público vitorioso não pôde participar do contentamento, do entusiasmo de seus munícipes.

(*) Roberto Mendonça é Coronel reformado da Polícia Militar do Amazonas e Sócio-Efetivo do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. 


quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Indumentária Feminina desde o Século XVI ao XIX


Inicialmente será preciso advertir que o primeiro gesto de admiração do índio por gente vestida diferentemente deles, que só usavam tangas e aracoiaba (saiote de penas) acontece com o contato entre eles e o capitão Francisco Orellana em 1541. A partir, portanto, da colonização portuguesa no século seguinte (XVI), é que se inicia uma reviravolta nos costumes, com as famílias colocadas em terras das Capitanias do Cabo do Norte e do Grão Pará. Só conhecemos os tipos de roupas femininas ou por xilogravuras imperfeitas ou pelos tipos de fazenda que a coroa portuguesa mandava distribuir aos colonos, os quais alegavam que suas mulheres e filhas não podiam ir à igreja por não terem “roupas de ver a Deus”. Que tipos de fazendas eram aquelas? Os documentos escritos nos dizem, na sua linguagem indecisa: peças ou côvados de “bertanha” (Bretanha), algodão não curado, chitas lisas, meias grosseiras, nada de sapatos nem de chinelos, somente socos. Para compensar essa míngua de ofertas, o governo autorizava a entrega de novelos de algodão cru, rocas de fiar e um ou outro tear de pedal. Os grandes teares só aparecem na Capitania de São José do Rio Negro, na vigência do governo Lobo de Almada, quando este mandou construir a Fábrica. Fechada esta, a população viu-se a braços com o problema duplo de importar as peças de Belém ou de fiar em casa o pano de algodão. Este último recurso foi o que deu certo e como se vê na foto do século XVIII, em todas as residências haviam fiandeiras, ou contratadas e/ou escravas.


A roca era um aparelho muito simples, constando de uma armação de madeira, dotada de roda grande que era movida a pedal e um rolo na parte superior para enrolar o fio de algodão. Trabalhava-se naquilo o dia inteiro ou em horas de lazer e obtinha-se o material necessário para o tear. Este sim, requeria maior desempenho e cabeça, pois a tecedeira deveria seguir certos padrões convencionais e a partir deles, elaborar seus desenhos próprios, com fios coloridos ou não. O tear não foi introduzido pelo colono, o indígena já o conhecia, pois fazia suas redes de fio de tucum, de trama bem apertada. Existem gravuras em livros de viajantes.

O governo português mais tarde já concedia equipamentos para os colonos, e mesmo chegava a dotar as filhas de família com um arsenal de roupas sofisticadas, daquele modelo que ia transitando do afogado para o amplo. Não dava presentes caros, do tipo jóias, sapatos, adereços feminis. Também as leis suntuárias proibiam que as escravas usassem ouro e brilhantes, sedas e veludos. Daí a grande sortida de colares e pulseiras de contas, aqueles “berenguendens” de que falam os cronistas e que continuam a encantar a mulher, enfeites feitos de sementes de mulungu, de lágrima de Nossa Senhora, com pendentes talhados em caroço de tucumã, e anéis do mesmo, chamados “memória”.


Os primeiros modelos de toalete feminina de que se ocupa a história, sem notícia detalhada, são oriundos do século XVI e foram as saias balão. A partir de um conjunto básico, que constituía a “braga” (calça frouxa apresilhada no tornozelo), anágua, camisa inteira, parapeitos, então sobrevinha a cobertura do colo, com uma blusa. Algumas damas de colo exuberante usavam o corselete e outras o espartilho. Esta peça era tirânica, pois tendia a acochar as banhas, diminuindo o “à vontade” dos movimentos, além de que eram feitas com talas de aço. Depois foram substituídas por barbatanas de baleia. A mulher desse período não usava sapatos de entrada baixa. Ou eram botinas de tacão baixo ou servilhas. As mestiças e escravas usavam o mesmo modelo, mas de pano diferente, algodão. No século dezoito as saias passaram a chamar-se “baroneza”, “veneziana”, ou “saias balão”, por causa do amplo diâmetro da fímbria que arrastava no chão. Quanto à blusa era de decote atrevido, mostrando o nascimento dos seios. O interessante é que para as mulheres mostrar os mocotós era mais ofensa ao pudor que mostrar os seios à Maria Antonieta. Para as mulheres de baixo nível social essa toalete chamava-se “descalça”, porque a mulher não usava calçados nem mesmo servilhas. Em compensação não deixava de trazer uma flor no cabelo, sua garridice. Madame Agassis ilustrou seu livro com o retrato de uma mestiça nesses trajes, mas não se refere ao nome “descalça”. Também nesse período a mulher da Amazônia não usava chapéu. Os cabelos eram armados ou em “torre” (enrolados para cima) ou em coque (popularmente cocó, enrolados na nuca). Atrás da cabeça elas metiam o “trepa moleque”, um pente grande, ornamentado, que ajudava a suspender a mantilha. O penteado podia variar daí para os cachos, os bandós, as tranças enroladas, os xixís. Cabelos soltos e tranças livres só as portuguesas usavam. 
O fim do século XIX trouxe Paris para a Amazônia e a indumentária mudou, com o uso e o abuso de grandes chapéus, vestidos de cauda, de uma só peça ou de duas, luvas e mitemes, calças curtas pelos joelhos, sapatos de entrada baixa e salto alto (ou botinas), sutiãs pré-fabricados, mas o uso do espartilho de barbatanas continuou até à década de vinte, mais ou menos, quando ela se libertou das calças (passando a usar calcinhas) e dos espartilhos. Os grandes “abanicos” ou leques eram fabricados no Japão e na Espanha, e certamente tiveram grande influência social nesse período. Os cosméticos é que não faziam parte do seu arsenal de boudoir. Os cheiros e os tônicos eram de origem natural: óleo de mutamba para o cabelo ficar ondulado e negro; patchuli, cumaru, para a roupa. Com a invasão da Europa, os perfumes do tipo kananga do Japão passaram a substituir o regional.