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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A História de Manaus e de seus Igarapés

A História de Manaus e de seus Igarapés


Não se pode contar a história de Manaus sem falar de seus igarapés, dos que existem e dos que desapareceram. São elementos naturais que caracterizam a nossa região e que, teimosamente, marcam a cidade e a sua gente desde os primeiros momentos de sua formação, seja como constituintes dos hábitos locais, seja como definidores, muitas vezes, dos limites entre bairros ou, ainda, como entraves ao desenvolvimento. É o caso, por exemplo, dos igarapés de São Vicente e do Aterro que, como tantos outros, foram extintos para dar passagem ao progresso.

Onde hoje se localiza o prédio da Fazenda Pública do Estado, na rua Monteiro de Souza (Centro), estão enterradas as ruínas da Fortaleza de São José do Rio Negro, que deu origem à cidade de Manaus. Centenas de urnas funerárias (igaçabas) foram encontradas nas cercanias do Forte e os vestígios indicam que se tratava do núcleo principal de um cemitério indígena.


Esses elementos denunciadores das origens de nossa cidade estão duplamente enterrados, ignorados pelos passos apressados dos citadinos que se amiúdam no passeio público, sem saber que pisam os vestígios dos antepassados de cuja história deriva indissociavelmente nossa própria identidade – ou a negação dela. Sem memória e destituído dos referenciais de suas próprias origens, o amazonense se olha e não se reconhece.


O que se deve ressaltar na história da cidade de Manaus é a história de sua constituição como cidade, como centro referencial e de suporte das operações do capitalismo de arribação que, por meio de seus ciclos de barbárie, condenou o amazonense a uma existência psitacídica em que ele constrói uma desidentidade na identidade do opressor. Como nas sábias palavras do poeta Alcides Werk – que nos acompanha, com a sua poesia e o seu amor pelas águas do Amazonas, em outros momentos deste trabalho – no poema “Papagaio”, do livro In Natura: poemas para a juventude:

Por falar engraçado, dizer “louro”,
o papagaio perde a liberdade.
Troca o universo verde da floresta
pelo pequeno espaço da cidade.
Move-se trôpego, andar desengonçado,
gingando vai atrás do carcereiro;
domesticado, esquece a própria espécie
– galináceo entre as aves do terreiro.
Para prazer dos homens é um palhaço,
em busca da comida é um flibusteiro,
acostuma-se ao trato das comadres
e segue parolando o dia inteiro.
Já vai longe a lembrança da floresta.
Como escravo, entre as almas mais pequenas,
do seu mundo selvagem só lhe resta
o verde claro de suas próprias penas 
(WERK, 1999, p. 53).

Fonte: http://igarapesdemanaus.wordpress.com/

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