UTILIDADE PÚBLICA

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Wuppschlander Lima - O primeiro locutor esportivo da cidade


Há algum tempo preparava uma matéria prestando minha homenagem ao Wupp, que tanto me incentivou quando dava os primeiros passos na crônica esportiva. Estava querendo conversar com ele para saber de detalhes de sua carreira como locutor esportivo. Mantive contato com o Cláudio, da Ótica São Paulo e um dia, á noite, recebi uma ligação: “o Wupp  mora no Jardim Paulista, na rua C. Fica na segunda rua do lado do Rip, pela direita”. Falei ao Cláudio que iria até lá na próxima semana e na mesma hora recebi uma recomendação: “avisa antes para a D.Terezinha prepará-lo, já que o seu estado de saúde não é bom”.

Eu queria saber como foi o começo de sua carreira de locutor esportivo, o primeiro do Amazonas. Queria saber tudo para fornecer ao Arnaldo Santos, então presidente da ACLEA, que mantinha o sonho de criar o Museu da Imagem e do Som sobre as coisas do futebol local. Queria saber tudo, desde o início de sua viagem ao Rio de Janeiro, quando ainda jovem foi fazer um estágio na Rádio Roquete Pinto e depois na Rádio Tupi, onde aprendeu os macetes de uma transmissão de futebol com Ary Barroso. Estava, por fim, tudo engatilhado para a matéria.

De Wuppschlander Lima, ou simplesmente Wupp para os mais chegados ou para aqueles que tinham dificuldade em pronunciar seu complicado nome, eu sabia alguma coisa, pois acompanhava a sua carreira no rádio local, nos matutinos como cronista de O Jornal, como animador de auditório e, principalmente como narrador, desde o final da década de 30. Não perdia o seu programa de auditório, inicialmente na Voz da Baricéa, das doze horas, quando essa emissora passou das mãos de Lizardo Rodrigues para a do Governo do Estado.

Recordo-me dos programas de auditório na Associação Comercial do Amazonas, “A Hora da Onça, que depois passou para a sede do Rio Negro, muito mais espaçosa para o público sempre crescente; da primeira festa irradiada em Manaus, a do Olympico Clube, diretamente do Parque Dez, sob sua direção e animação, com a parte técnica comandada pelo professor Manoel Bastos Lira; de sua participação no programa de auditório “Tem Gato na Tuba”, ao lado do locutor Índio do Brasil, no auditório da Rádio Difusora, na rua Joaquim Sarmento, 100, com uma seqüência sobre esportes.

Lembro-me, ainda mais, por ter sido o controlista de som, da ocasião, da inauguração da Rádio Rio Mar, a 15 de novembro de 1954. O diretor da emissora, Charles Hamu, chamou o Wupp para abrir oficialmente a solenidade no último andar do edifício do então Iapetec, na Praça D. Pedro II. O ponto alto da programação foi pela parte da noite, no Teatro Amazonas, com a apresentação da cantora Violeta Cavalcante, amazonense de nascimento e que fazia sucesso com o bolero “Castigo”.

Lembro-me da primeira transmissão de futebol que ouvi numa vibrante narração de Wupp, em 1939, direto do campo do Parque Amazonense. Era o Torneio Início, um dos mais bem organizados pela entidade local. Poucos eram os aparelhos de rádio em Manaus. Na Rua Xavier de Mendonça (Aparecida), onde eu residia só na residência do Edson Bastos, então servidor da Alfândega. Ouvi os jogos do Torneio e principalmente, mais colado ao rádio, Independência e Fast e gravei até hoje a zaga do Independência formada por Tininga e Querosene, muito destacada durante a transmissão.

Lembro-me também do advogado, Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e de seu escritório no térreo do edifício Iapetec, com ventilação natural pelo sombreado das veteranas mangueiras da Praça D.Pedro II, bem tratadas pelos administradores da época e ornamentados com orquídeas. Lembro-me de todos esses detalhes, porém desejava algo mais. Estava com a visita programada para o dia 10 de dezembro de 1985, quando recebi a notícia, através de Flaviano Limongi, depois confirmada por Arnaldo Santos, que me dizia: “perdemos mais um depoimento importante para o nosso Museu da Imagem e do Som”.

Wuppschlander Lima faleceu no dia 7 de dezembro de 1985. Era um amigo de mais de 30 anos. Incentivador do trabalho de um iniciante e que sempre procurava sua orientação dentro de sua vasta experiência na crônica esportiva. Morreu três dias antes do encontro que já estava marcado para seu depoimento.


Por: CARLOS ZAMITH | Baú Velho



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